Comunicação e Poder
Shirley Hunther*
Os meios de comunicação surgiram e se aperfeiçoaram ao longo do tempo com a finalidade de facilitar a vida social do ser humano. Nesse sentido, o homem vive numa busca incansável para se comunicar melhor, tendo como objetivo final viver melhor.
A comunicação é um canal pelo qual a cultura é repassada de geração para geração. Os padrões de vida —maneira que aprendemos a fazer parte de uma sociedade, nação, cidade, comunidade, grupos de amigos e família— são transmitidos através da cultura, que é disseminada pela comunidade.
A comunicação é muito mais do que os “meios de comunicação”. Os jornais, as rádios, as revistas, as TV’s são importantíssimos para a comunicação humana, mas eles são apenas gotas no oceano diante das milhares formas e possibilidades de comunicação que temos na vida.
Mas, qual a comunicação que queremos? Uma comunicação que haja troca entre emissores e receptores? Que haja participação, compartilhem voluntariamente experiências, sob condições livres e igualitárias de acesso? Queremos uma comunicação que seja feita de baixo para cima, a partir das comunidades? Então, queremos uma comunicação popular?
A comunicação popular, ao contrário daquela que é utilizada pelos veículos de massa, trabalha pela transformação de uma ordem social injusta para uma ordem de justiça e fraternidade. Por isso, não existe cidadania quando o direito à comunicação é negado. A comunicação popular significa criar modo de ver, ouvir e falar.
Neste sentido, as rádios comunitárias assumem um papel fundamental na libertação das comunidades e na luta por justiça social. É um dos mais importantes veículos para o desenvolvimento e fortalecimento local, para o poder e força das comunidades. As rádios comunitárias também são instrumentos de preservação da cultura e de luta contra a dominação de classe.
A mídia, nos dias atuais, exerce um poder de controle muito grande sobre os cidadãos e as cidadãs. Aquilo que vemos e sabemos (é transmitido) através dos meios de comunicação. Porém, não paramos para analisar se aquele conteúdo merece total confiança.
Pois bem, segundo o filósofo Francês, Michel Foucault, o poder não é uma coisa, algo que se toma ou se dá, se ganha ou se perde. É uma relação de forças. Circula em rede e perpassa por todos os indivíduos. Neste sentido, não existe o “fora” do poder. Trata-se de um jogo de forças, de lutas transversais presentes em toda sociedade. Onde há saber, há poder. Mas, é importante acrescentar onde há poder, há resistência.
Os meios de comunicação manipulam a opinião pública, mantêm uma relação de poder, e não uma parceria como foi proposta no início da sua existência. Pensemos no alcance dos meios de comunicação de massa como possíveis formas de controle e manipulação. Então, esse “controle” e “manipulação” são reais e vivenciamos em nosso dia-a-dia. A mídia repassa para nós, cidadãos e cidadãs, da forma que quer e como quer, por não haver um controle, uma exigência maior na filtração das noticias.
Mais uma vez não posso deixar de citar Foucault. Pois, é a forma pomposa de verbalizar que o poder não pode ser localizado em uma Instituição ou Estado, o que tornaria impossível a tomada de poder, proposta pelos marxistas, embora o filósofo tenha sido simpatizante da causa comunista. O não poder não é considerado por ele algo que o indivíduo cede a um soberano, mas uma relação de força.
O filósofo francês também afirma que a própria sociedade cria meios para controlar a si mesmo. Vive criando regras para dominar uma situação e depois se vê nas mãos dessas regras de forma violada e discriminada.
A mídia cria certo tipo de poder em cima da sociedade, cria certos preconceitos baseado em fatos restritos, generaliza o todo quando o fato pertence à parte. Esse negativo nasce a partir da normatização social com o intuito de controlar. E hoje, quem controla, ou melhor, quem detém do “poder” são os meios de comunicação, são aqueles que têm o controle da informação.
A comunicação é um direito humano que deve ser tratado no mesmo nível e grau de importância que os demais direitos humanos. A importância do direito e da comunicação estão ligados ao papel que eles têm na construção de identidades, subjetividades e do imaginário da população, bem como na conformação das relações de poder.
*Relações Públicas, Jornalista e pós-graduada em Jornalismo Cultural e Lingüística do texto e do Discurso
FONTE: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=48551
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